Reflexão de Filosofia #2 – A Morte e o Sentido da Existência

by Leonor Santos

O problema da existência, o significado da vida e o medo da morte iniciam-se cedo numa fase etária muito prematura com a idade dos porquês: “Porque é que as pessoas ficam doentes?”; “Porque é que o avô não acorda?”; “Porque morremos?”. Porquê? Desde Albert Camus, que defende o caráter absurdo e a falta de sentido da vida, a Peter Singer, que acredita que uma vida com sentido pressupõe uma vida ética, deambulamos por uma série de hipóteses sobre este grande problema da existência.

Apoiamo-nos em crenças, escondemo-nos na religião e calamo-nos das partes obscuras do futuro somente para afogar os medos pois a ideia de deixar de fazer parte do mundo assusta, causa revolta até de tanto pensar. Creio que de certa forma, o sentido que a vida tem deve ser dado por cada pessoa que lhe tem direito. A partir do momento que nos guiamos pelo sentimento e que tememos a morte, dando-lhe um significado após a mesma como a reencarnação, revelamos o desejo pela procura de algo que responda ao porquê daqui estarmos.

É possível que sejamos inseridos no mundo apenas como fruto da reprodução de uma espécie racional, a nossa. É possível até que os seres divinos da metafísica não passem de suportes falsamente edificados. Contudo, o facto de não sermos só um mas milhares de milhões obriga-nos a estabelecer normas inserindo desde logo cada pessoa num caminho dirigido por cada um, onde fazem parte objectivos e o sentimento de compensação. Posto isto, a cidadania torna-se num leme e apresenta-nos não o significado da existência mas as limitações e a forma do sentido que pudemos dar à vida.

A afeição que criamos com as coisas, pessoas e actividades, assim como as sensações que todos eles nos proporcionam, essencialmente as boas, fazem-nos querer mais, fazem com que tenhamos vontade de experimentar o muito que há de novo. Para além disso, a ânsia de crescer, o furor de ganhar, o ímpeto de cogitar ou a necessidade de mais tempo para viver têm de dar um sentido à existência e à vida. Servimo-nos de tudo para encontrarmos esse sentido, para acreditarmos que o há. Procuramos por ele incessantemente e quando não o procuramos porque estamos perdidos limitamo-nos a perguntar por ele, ou seja, a procura-lo essencialmente dentro do nosso próprio ser, o que tende para a crença de que há uma razão para viver.

O sentido da vida termina a partir do momento que não o queremos conhecer, a partir do momento que não queremos apreender mais acerca dele, a partir do momento que não temos força nem poder para nos levantarmos ou para aceitarmos o braço de alguém. Quando a vida deixa de ter sentido deseja-se a morte por também a ela não atribuirmos significado nestas ocasiões. Mas quando a vida o tem, suportamo-nos no tempo tentando eternizar-lo em cada momento num pequeno infinito.

Uma vida com sentido não é apenas um vida ética pelo respeito que se presta ao fundamento e liberdade dos outros, é também o poderio de algo que podemos moldar como desejarmos pondo toda a dedicação nela e portanto em nós, é um limite e uma forma de o transpor mesmo que a existência seja demarcada pela morte. Esta dá um sentido à vida, e o sentido dado à vida acaba ele próprio dando uma essência à morte pela firmeza existencial lhe retirar desejo.