Subterfúgio de Palavras

Leonor, Portugal. – "Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo." Fernando Pessoa

Month: Fevereiro, 2016

O Amor e a Atração – Reflexão de Psicologia B

A atração tem dois tempos – a atração antes e a atração depois – isto quando metemos o amor pelo meio.

A atração antes: 

A atração vem normalmente do desconhecido. Não propriamente de UM desconhecido mas de algo que não nos é conhecido.Se não fosse suposto ser um pouco mais formal, nomearia a atração de bicho. Ela própria acaba por ser um bichinho dentro de nós relacionado connosco e não com a pessoa por quem nos sentimos atraídos propriamente dita. Digo isto porque  a atração parece aparecer num ambiente todo ele bem estipulado, ou seja, dependendo daquilo que somos naquele dia sentiremos atração por determinada pessoa, mas numa situação diferente engraçaremos com outra.

Quando falo na atração, não me limito à física do sexo da nossa preferência dependendo da nossa orientação sexual. Lembro-me até de ter ido numa viagem há dois anos e de ter escrito um texto sobre uma mulher que provavelmente não voltarei a ver e com quem nem falei mas com quem senti uma empatia só de a olhar. Chamo a isso atração por caminhar por um mistério que quem sabe desvendado romperia tal encanto. É isso que a atração é, um encanto momentâneo, e não nego a existência de excertos momentâneos do tempo maiores que certos amores.

A atração depois:

A atração é o que fica depois do amor. Se não é atração então não sei o que é, porque depois do amor há uma saudade daquilo que fomos com alguém, e essa saudade impulsiona-nos a querer um tempo passado. É estranho e não sei bem explicá-lo, mas o amor vai-se esquecendo e a saudade vai-o substituindo, e se a saudade fica no peito ao invés do amor, então quem é que a suporta? É isso que digo, chamar-lhe-ia uma atração, de todo e qualquer tipo, por um ser que se desenvolve, como todo o humano, num espaço que já não nos pertence, e portanto, tudo o que temos dessa pessoa é o seu ser no limite do tempo que partilhámos com ela.

Amor:

Amor? Amor é mais presente. Amor é algo que toda a gente sabe um bocadinho, é algo que toda a gente pensa que sabe um bocadinho, e ainda consegue ser algo que alguns pensam que ninguém sabe o que é. Hoje, e para mim, amor é proximidade, não necessariamente física porque o amor por vezes parece que transcende. Não gosto de dividir o amor em tipos de amor mas faço-o para me perceber e fazer perceber: Amor de mãe, amor de filho, amor de irmão, amigo, avó, amor de amante! O engraçado no amor é que não me parece um sentimento. “Sinto amor.”… Acho até que para uma palavra de quatro letras lhe cabe muito dentro. Amor envolve tanto que não consigo sequer sintetizá-lo. Amor é dar importância. É certo que alguém consciente dá importância às coisas, às notas por exemplo! Eu podia dizer que a consciência para os objetivos é que nos faria estudar para os alcançar-mos, mas a verdade é que acabo por concluir que é amor. Não às disciplinas, não às matérias, mas a nós – o amor próprio.

O amor de amante tem, pelo menos da porção de matéria de amor que eu penso que sei, sempre atração. Penso isto porque o amor de amante, como o denomino por não lhe encontrar outro nome, passa antes pela paixão e numa fase plena de paixão não se pensa muito no que se diz, não se pensa muito no que se faz. O amor de amante é mais completo por ter mais de tudo, tem um sentido de partilha muito maior do que qualquer outro amor, é um amor mais ligado ao significado convencional da palavra amor, um amor com mais paixão, um amor que com o tempo parece que amena mas que continua ridículo com sussurros néscios ao ouvido.

Contudo, o amor nem sempre tem atração porque eu não a sinto com os meus pais nem com os meus amigos. Há, no entanto, algo muito parecido com a atração, uma espécie de impulso repentino, que por vezes perdura com a visão, estimulado por uma atitude de outrem que nos faz reagir de forma a demonstrar carinho com um beijo ou um abraço, e isso parece-me que parte do amor:  Amor de mãe, amor de filho, amor de irmão, amigo, avó, amor de amante! Eu não tenho destes impulsos com quem não tenho tanta proximidade, não tenho sequer a necessidade de senti-la com quem não a tenho e portanto não lhes terei amor, a esses a quem não me vejo próxima.

Se eu digo que a atração é momentânea então eu faço do amor algo que a gente trata, ao contrário da atração que se trata por si só. Mas isso digo eu hoje, que vejo proximidade como uma forte ligação interpessoal. A verdade é que o amor tem destas coisas, muda-nos as ideias sem sequer dar-mos por isso.

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Conversas e Fados

Para a Francisca e para a Laura (eternamente grata, eternamente enleada):

Perco-me em conversas:
silêncio.
Começo-as sem prelúdio:
inquisição.
Deixo-as sem fim:
devaneio convencional,
rara omissão.

Dubiedade?
Fica pra mim.
Rosto inocente, palavras que rimam com crente
Conhecimento puro:
é delicada ingenuidade.
Vacilação existe apenas num fruto imaturo

Restam os anos:
percam-se neles.
Não é dos alheios o futuro
Não o meu, não o vosso
Fado não é pelos outros
Que em minhas mãos cuido eu tudo o que posso

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Madrugada II

Não me toleras dormir
Tão somente por te querer escrever
E desenhar em palavras
Os contornos do teu ser